Figueirão: Zoneamento agro-econômico desta município no cenário nacional

O segundo município mais novo de Mato Grosso do Sul, com apenas 16 anos de emancipação e 3 mil habitantes, Figueirão, a 24

Municípios gazetacrnews em 01 de novembro, 2019 07h11m

O segundo município mais novo de Mato Grosso do Sul, com apenas 16 anos de emancipação e 3 mil habitantes, Figueirão, a 246 km de Campo Grande, desponta no cenário nacional quando o assunto é pecuária de corte. Agora quer se destacar também como uma referência no uso de tecnologias no campo. Para isso, criou um sistema de zoneamento agro econômico, que disponibiliza dados das 605 propriedades rurais localizadas em seu território.

Com esse “mosaico informatizado” foi possível a prefeitura traçar o perfil do agronegócio do município e suas potencialidades. Os dados revelaram, por exemplo, que 70% das propriedades rurais do município são voltadas para a criação de gado de corte. Um conjunto de fatores tem estimulado a atividade, como bom preço das áreas em relação a outras cidades do estado e do país, solos adequados ao desenvolvimento de pastagens e investimentos dos criadores no melhoramento genético dos rebanhos.

De acordo com Marcos Oliveira, chefe de divisão de Tecnologia da Informação da prefeitura, foi desenvolvido um mapa digitalizado de toda área rural do município. Uma equipe de topografia percorreu todas as fazendas e com as informações colhidas criou o sistema. A ferramenta une informações de GPS com dados das propriedades, o que possibilitou a elaboração de um panorama detalhado do agro no município, que incluí desde detalhes como pontes, porteiras e até trechos de estradas ruins.

Oliveira aponta que a potencialidade do município junto com essa gama de informações tem facilitado a tomada de decisão dos empreendedores do setor, estimulando novos investimentos em Figueirão.

O prefeito de Figueirão, Rogério Rosalin, diz que um indicador desses novos investimentos é o aumento da arrecadação do Imposto de Transferência de Bens e Imóveis (ITBI) que saltou de R$ 200 mil por ano para quase R$ 1 milhão. “Isso demonstra que está havendo mais procura”, comenta.

A arquiteta e produtora rural Mônica Hoop Granieri, do estado de São Paulo, comprou nessa quarta-feira (30) uma fazenda com cerca de 1.200 hectares na região. Ela afirma que antes de investir, pesquisou sobre o município utilizando o sistema da prefeitura e que os dados disponíveis foram decisivos para fechar o negócio.

“Antes de chegar aqui [Figueirão], eu fui para vários estados do Brasil e até mesmo na Bolívia. Quando eu tive a oportunidade de saber tudo sobre a região por meio desse mapeamento, senti confiança e decidi bater o martelo. Aqui, é uma área promissora e já reconhecida por sua qualidade”, explicou ao G1.

Conforme Mônica, a possibilidade de trabalhar de forma online e a organização das propriedades rurais são diferenciais porque é possível saber o que se produz em cada uma delas. Ela diz que pretende implantar na região um projeto de pecuária sustentável, para a produção de carne orgânica. “Essa organização de sistema alinhada com o desejo de cada produtor de fazer o melhor me encantou”, destacou acrescentando ainda:

“a região é sadia, tem clima extremamente favorável para a criação de gado , a luminosidade aqui é fantástica, a água é limpa e tem aparentemente uma qualidade excepcional. os animais criados são livres de doenças. resumindo, a região é muito boa na conversão de peso dos animais”, reforça.

De acordo com a produtora, a tecnologia de monitoramento até contribui para evitar prejuízos e oferece segurança referente à área que foi comprada. “Por conta do mosaico online, na hora de fazer todo o processo no cartório, temos a exatidão de cada área e assim não corremos risco de termos problemas com escrituras, tomando ou perdendo terras das fazendas vizinhas”, finaliza.

Conforme a prefeitura, o projeto começou a ser desenvolvido em 2015 para descobrir a identidade econômica de Figueirão. O município tem uma área de 500 mil hectares. É o 23º lugar em área territorial que chega a 4.882.879 km² e tem um rebanho com cerca de 300 mil cabeças de gado.

“Precisávamos saber o que realmente produzimos e qual a nossa base econômica para atrair investidores e gerar emprego para a população. Nós não tínhamos uma identidade, mas hoje é possível confirmar que somos referência quando o assunto é qualidade em criação de gado de corte e produção de carne, tudo por meio desse sistema”, explica o prefeito.

Rosalin conta que de início, no desenvolvimento do sistema, a ideia era apenas saber a quilometragem das estradas vicinais que cortam o município para que quando houvesse algum problema nas vias, o reparo fosse feito de imediato.

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“A partir desse momento começamos a avançar para dentro das propriedades rurais. Identificamos cada uma delas e com informações básicas já era possível saber os proprietários, se era arrendada ou não, área e agora sua produção”, explica Rosalin.

Para o desenvolvimento do projeto, a prefeitura foi atrás de parcerias com órgãos como o Incra que cedeu o Cadastro Ambiental Rural (CAR) das propriedades. Isso possibilitou montar o mosaico que apresentou as 605 propriedades: “Isso foi um grande avanço, pois conseguimos até identificar a parte de estrutura das casas dessas fazendas, por meio de uma planta baixa”, afirma.

Benefícios

De acordo com a prefeitura, o benefício direto foi uma melhor organização da administração pública, ou seja, potencializou a gestão por meio dos dados. Como essa fundamentação, o marketing do município foi intensificado e aliado a fama que a região tem de excelência na produção de gado, investidores foram atraídos também pelas terras com valores mais acessíveis

“Um dos benefícios diretos é o incremento na comercialização de terras no município. Muitos investidores nos procuram para conhecer mais sobre nossa região e quando enviamos nosso conteúdo, sempre são fechados bons negócios”, explica

O proprietário rural e engenheiro agrônomo Thiago Corazza, investe na região desde 1988 quando tinha apenas 17 anos. Hoje, com uma propriedade que se tornou referência na produção de carne de qualidade, inclusive com venda no mercado internacional, ele ressalta que os bons resultados chegaram após os investimentos no melhoramento genético do rebanho.

Corazza reforça que o sistema de monitoramento das propriedades tem sido um importante instrumento para que potenciais investidores conheçam mais a região. “Eu percebo que com esses dados é possível fecharmos bons negócios. No nosso caso, já existem grupos interessados em fechar parcerias. Esse panorama que é muito viável, aliado as questões favoráveis para a criação de gado, tem feito da região um excelente local de investimentos”.

Com uma propriedade com cerca de 11 mil hectares no município e que faz o ciclo completo com cria, recria, engorda e confinamento, o criador explica que começou a desenvolver um programa de melhoramento genético da raça nelore em 1997 e, dois anos depois, o projeto possibilitou a exportação da carne dos animais criados na fazenda.

A propriedade é homologada pela Comunidade Europeia e a excelência de sua produção fez com que fosse inserida na Cota Hilton, a parcela de carnes de alta qualidade que são exportadas pelo Brasil para o bloco. “Nós atingimos a ponta da pirâmide da cota para a exportação e de cinco anos para cá, começamos a fornecer para restaurantes de algumas capitais do Brasil”, explicou ao G1.

De acordo com Corazza, nos últimos anos o produto [carne] é principalmente fornecido para marcas de carnes e restaurantes para quatro grandes centros do país: São Paulo (que representa 85% do mercado), Rio de Janeiro, Minhas Gerais e Brasília (que ficam com os outros 15%).

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