
A Associação Beneficente Santa Casa de Campo Grande (ABCG) solicitou, com caráter de urgência, audiências com a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), e com o governador do Estado de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PP) para tratar sobre a prestação de serviços ao Sistema Único de Saúde (SUS), conforme decisão liminar vigente.
Mesmo com um terço do orçamento do Município (R$ 2,1 bilhões de R$ 6,87 bilhões este ano e R$ 2,25 bilhões de R$ 6,97 bilhões previstos para 2026), a Saúde campo-grandense vem experimentando constantes colapsos em leitos hospitalares, seja adulto ou pediátrico, números que foram confirmados por hospitais ao Correio do Estado.
A Santa Casa enfrenta um cenário crítico de sustentabilidade financeira. Desde agosto de 2023, os contratos com o SUS são prorrogados sem qualquer reajuste no valor-base, o que tem gerado desequilíbrio frente ao aumento progressivo dos custos hospitalares.
Em março, durante audiência pública na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, foi informado que a Santa Casa tinha um déficit anual de R$ 158,85 milhões. O número resulta da desproporção entre os valores recebidos pelo hospital e os custos que precisa arcar.
Nesta mesma audiência, o deputado Pedrossian Neto (PSDB) levantou o seguinte questiomento:
“A Santa Casa tem custo mensal de R$ 45 milhões e consegue auferir em receita da União, do Estado e do Município de Campo Grande apenas 32 milhões aproximadamente. E eu pergunto como uma instituição faz para continuar aberta precisando, a cada mês, de R$ 13 milhões?”
A instituição não tem recebido recursos provenientes de ações judiciais já reconhecidas contra antigos gestores da saúde, atualmente em fase de cumprimento, o que agrava ainda mais a situação econômica da entidade.
Com isso, o hospital acumula dívidas com fornecedores e prestadores de serviço, comprometendo a capacidade de manter os atendimentos essenciais à população.
Outro problema enfrentado pela Santa Casa é a alta taxa de ocupação dos leitos. O hospital informou que são disponibilizados 637 leitos para o SUS, sendo 609 entre UTI e enfermarias, 23 leitos de pronto-socorro e oito de Unidade Coronariana. Deste todo, 80,87% estão ocupados, com um tempo médio de permanência de 9,91 dias.
Porém, este não é um problema apenas da Santa Casa. No Sistema de Gestão de Saúde (SiGS), portal disponibilizado pela Prefeitura para verificação de leitos e tempo de espera em cada Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e Centro Regional de Saúde (CRS), cinco unidades aparecem com leitos lotados, tanto para emergência quanto observação:
UPA Vila Almeida
UPA Coronel Antonino
UPA Leblon
UPA Santa Mônica
UPA Moreninhas.
Nas outras unidades, há pouquíssimas vagas em leitos, seja para emergência ou observação. Os dados são atualizados a cada duas horas no site.
UPAs lotadas
Pelo lado da administração pública, não há qualquer sinalização para melhorar o quadro de falta de leitos, muito menos um plano. Os membros do Comitê Gestor da Saúde, que fazem, às vezes, a função de secretário, ainda não entregaram nenhuma proposta neste sentido.
O Correio do Estado verificou na quarta-feira (8) a situação das unidades que dá aos usuários da saúde pública o seguinte panorama:
Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS) - nove leitos de Centro de Terapia Intensiva (CTI) adulto, nove leitos na Unidade Coronariana (UCO), nove leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica e seis leitos de UTI neonatal. Todos com 100% de ocupação;
Santa Casa - 637 leitos para saúde pública, sendo 609 entre UTI e enfermarias, 23 leitos de pronto-socorro e oito de C.O., dos quais 80,87% estão ocupados.
Hospital Adventista do Pênfigo (HAP) - 20 leitos de UTI e 30 leitos clínicos contratualizados com a Prefeitura de Campo Grande e mais 10 leitos de UTI e 20 leitos clínicos com contrato vigente com o Estado, acordo este que vai até novembro. Todos se encontram ocupados.